"Como você mudou", disse-me ele. Havia alguns
anos que o contato já não era o mesmo - para não dizer inexistente - e,
decerto, meu olhar absorvera certa dureza, tornando-se diferente daquele outrora
utópico e desarmado, com brilho notável, que ele tanto elogiava nas horas
românticas e criticava nos momentos mais conflitantes.
É incrível, aliás, como a mesma característica pode ser
vista de formas diferentes até por uma mesma pessoa, comprovando que não
conseguimos falar dos outros sem mostrar algo de nós mesmos, e da nossa
inconstância.
Acabei realmente me blindando, mesmo que isso não tenha
sido repentino. Não precisei de um trauma para entender que nem sempre as
melhores atitudes e a mais genuína boa vontade vão conduzir aos melhores
resultados.
Aprendi a ouvir um não (ou vários). Aprendi a entender o
não. Aprendi a dizer sim apenas quando tiver certeza disso. Aprendi, aliás, que
nem sempre minhas certezas são permanentes e, por isso, nunca vou deixar de
falhar... Se não conseguir, eventualmente, respirar e me congratular pelas
pequenas vitórias, me verei sempre como uma perdedora. E aí que perco mesmo.
Obviamente, no entanto, o comentário dele não se referia a
uma nuance do meu olhar - disfarçado pelos óculos escuros - e sim a algo
notável prontamente, como meu novo corte de cabelo ou roupas de outro estilo.
Ele não imaginaria jamais que minha maior transformação não estava tão visível
assim. Nem, até então, para mim mesma.
Tê-lo encontrado ao acaso, como eu desejava que acontecesse
nos tempos mais difíceis, foi completamente diferente do que imaginava. Na
época, minhas divagações abarcavam os mais diversos discursos ensaiados que
despejaria nele, sobre como ele partiu meu coração e todas as sentimentalidades
que me permitia (não eram poucas).
Imaginava suas possíveis reações, e tentava constantemente
entender os seus motivos, para mim ainda tão incertos e irracionais. Mas ali,
na materialização do esperado "confronto" idealizado em várias noites
insones, face a face, sorri sinceramente e comentei: "Você está ótimo",
querendo dizer também, principalmente para mim mesma, "É, eu realmente
mudei".
Lindo texto, Mabel.
ResponderExcluirTodo mundo sonha com esse momento. Perfeito!
ResponderExcluirBelzinha, parabéns pelo Blog, tá muito bom!!! Beijo!
ResponderExcluirBel, parabéns pelo blog, tá massa.
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