23 de fev. de 2012

Tchau, tchau, Carnaval!



Madrugada pós-quarta-feira de cinzas. Existe pior momento para a insônia aparecer? Compromissos me aguardam em poucas horas e, ainda assim, cá estou com um corpo dolorido e um copo de coca-cola cheio, perpetuando a falta de sono oriunda dessa rotina carnavalesca insana.
O que sobra do carnaval, além de boas histórias, rouquidão, lembranças remotas e fotos estranhas (algumas cruelmente compartilhadas nas redes sociais), é um grande choque de realidade. Nesses momentos, sinto que existe uma razão para toda essa algazarra acontecer apenas uma vez ao ano: é difícil aguentar voltas abruptas ao “mundo real”.
O palhaço simpático (questionável, alguns diriam) que falava no palco do Marco Zero este ano, entre uma atração e outra, disse que gostaria que houvesse quatro dias de trabalho e os demais 361 fossem carnaval. Assim não dá, meu amigo. A realidade de boa parte do ano é, para a maioria, constante e rotineira, mas não o é por acaso.
As pessoas precisam de estabilidade durante um período longo pra poder justificar esses quatro dias de folia (pelo menos acho que seria recomendável). Eu, que não sou lá das mais descontroladas, ainda não consigo entender meu comportamento e algumas ligações e mensagens, o que dirão os mais exaltados?
Nunca fui fã de multidões.  Mas, para minha felicidade, no empurra-empurra carnavalesco encontro mais simpatia do que antipatia. Fora isso, quando mais se interage com estranhos com uma facilidade assombrosa? E quando mais os estranhos estão fantasiados de Elvis Presley ou de Tartarugas Ninjas?
Admiro, ainda, um evento que faz um banheiro químico se tornar uma opção e espetinhos semi-crus serem devorados com gosto, cobertos com aquela farinha que ali ficou exposta por tempo indeterminado. Tem algo a mais – não apenas no espetinho – que não sei descrever e que talvez por isso mesmo me fascine. A despeito da falta de descrição, consigo extrair uma constatação curiosa: aprecio, sobretudo, na essência carnavalesca, boas companhias, justamente as que tenho “disponível” durante todos os dias do ano (sem querer parecer presunçosa).
Óbvio, é ótimo encontrar pessoas despretensiosamente, ato comum nesses dias de festa. Mas o que garante aquela certeza de divertimento é combinar de encontrar aquele pessoal de sempre e tomar umas bebidinhas antes de ir aonde quer que seja, só para aquecer, ou até mesmo comer sanduíches depois (recomendo visitar o drive-thru da Burger King, sem carro).
É – em síntese – ver as coisas engraçadas e compartilhar com eles, ou passar por coisas não engraçadas e inoportunas como a falta de estratégia para voltar para casa, fazendo piada disso também. É cantar junto músicas conhecidas e praguejar pelas desconhecidas. É ficar parando no meio da multidão porque fulano ficou pra trás (mais de uma vez).
            Por que então esse encanto todo com o carnaval em si? Como já disse (sim, minha prolixidade atinge níveis épicos nesse horário), se eu soubesse eu me explicava. Acho que em parte é um pretexto para passar mais tempo bem acompanhada e com uma folguinha da realidade, geralmente grande limitadora de contatos e encontros.
Somos criaturas engraçadas. Sabemos o que nos faz bem, mas geralmente agimos contrariando esse saber. E em momentos como o carnaval a gente vai lá e se permite. Gostaria mesmo é de aprender a mágica do balanceamento. Nem sempre é carnaval ou virada de ano (uso o “ou”, embora alguns considerem o fim do carnaval a verdadeira virada de ano), mas sempre há oportunidade de encontrar graça, ainda que não haja fantasias, e de renovar o que não parece tão atrativo assim. Tudo depende de vivermos novas histórias, o que só depende da nossa vontade.
O desafio é encontrar maneiras de se convencer e convencer os outros disso sem subterfúgios externos, shows gratuitos e concentração de pessoas desconhecidas e suadas, e, sobretudo, sem essa necessidade de tudo ou nada que caracteriza os dias de folia.
Esquecer o calendário e pensar na urgência natural de sermos felizes, mas lembrar de não agir bruscamente, pois não aguentamos esse tipo de coisa com frequência. O resultado, embora mais batalhado, pode ser mais prazeroso (e surpreendentemente constante) do que a já aguardada e explosiva alegria de um período de carnaval (e pode ter efeitos menos prejudiciais do que uma nada conveniente insônia).

5 comentários:

  1. Essa é minha Bel <3

    Carnaval, para mim, é também sinônimo de encontrar você pouquinho, mas ainda assim, sempre munida de um sorriso bem aberto e um abraço muito forte.

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  2. voltei ao tempo... (cunha)

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  3. Muito bom Belzita! Quase me deu vontade de ir curtir a folia. Quase ;P Por sorte, sempre posso me encontrar contigo! =****

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  4. Eu leio Mabel para me sentir bem e motivada. É muito amor, viu?

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