Madrugada pós-quarta-feira de cinzas. Existe pior momento
para a insônia aparecer? Compromissos me aguardam em poucas horas e, ainda
assim, cá estou com um corpo dolorido e um copo de coca-cola cheio, perpetuando
a falta de sono oriunda dessa rotina carnavalesca insana.
O que sobra do carnaval, além de boas histórias, rouquidão,
lembranças remotas e fotos estranhas (algumas cruelmente compartilhadas nas
redes sociais), é um grande choque de realidade. Nesses momentos, sinto que
existe uma razão para toda essa algazarra acontecer apenas uma vez ao ano: é
difícil aguentar voltas abruptas ao “mundo real”.
O palhaço simpático (questionável, alguns diriam) que
falava no palco do Marco Zero este ano, entre uma atração e outra, disse que
gostaria que houvesse quatro dias de trabalho e os demais 361 fossem carnaval.
Assim não dá, meu amigo. A realidade de boa parte do ano é, para a maioria, constante
e rotineira, mas não o é por acaso.
As pessoas precisam de estabilidade durante um período
longo pra poder justificar esses quatro dias de folia (pelo menos acho que
seria recomendável). Eu, que não sou lá das mais descontroladas, ainda não
consigo entender meu comportamento e algumas ligações e mensagens, o que dirão
os mais exaltados?
Nunca fui fã de multidões. Mas, para minha
felicidade, no empurra-empurra carnavalesco encontro mais simpatia do que
antipatia. Fora isso, quando mais se interage com estranhos com uma facilidade
assombrosa? E quando mais os estranhos estão fantasiados de Elvis Presley ou de
Tartarugas Ninjas?
Admiro, ainda, um evento que faz um banheiro químico se
tornar uma opção e espetinhos semi-crus serem devorados com gosto, cobertos com
aquela farinha que ali ficou exposta por tempo indeterminado. Tem algo a mais –
não apenas no espetinho – que não sei descrever e que talvez por isso mesmo me
fascine. A despeito da falta de descrição, consigo extrair uma constatação
curiosa: aprecio, sobretudo, na essência carnavalesca, boas companhias,
justamente as que tenho “disponível” durante todos os dias do ano (sem querer
parecer presunçosa).
Óbvio, é ótimo encontrar pessoas despretensiosamente, ato
comum nesses dias de festa. Mas o que garante aquela certeza de divertimento é combinar
de encontrar aquele pessoal de sempre e tomar umas bebidinhas antes de ir aonde
quer que seja, só para aquecer, ou até mesmo comer sanduíches depois (recomendo
visitar o drive-thru da Burger King, sem carro).
É – em síntese – ver as coisas engraçadas e compartilhar
com eles, ou passar por coisas não engraçadas e inoportunas como a falta de
estratégia para voltar para casa, fazendo piada disso também. É cantar junto
músicas conhecidas e praguejar pelas desconhecidas. É ficar parando no meio da
multidão porque fulano ficou pra trás (mais de uma vez).
Por que então esse encanto todo com o carnaval em si? Como já disse (sim, minha
prolixidade atinge níveis épicos nesse horário), se eu soubesse eu me explicava. Acho que em parte é um
pretexto para passar mais tempo bem acompanhada e com uma folguinha da
realidade, geralmente grande limitadora de contatos e encontros.
Somos criaturas engraçadas. Sabemos o que nos faz bem, mas
geralmente agimos contrariando esse saber. E em momentos como o carnaval a
gente vai lá e se permite. Gostaria mesmo é de aprender a mágica do
balanceamento. Nem sempre é carnaval ou virada de ano (uso o “ou”, embora
alguns considerem o fim do carnaval a verdadeira virada de ano), mas sempre há
oportunidade de encontrar graça, ainda que não haja fantasias, e de renovar o
que não parece tão atrativo assim. Tudo depende de vivermos novas histórias, o
que só depende da nossa vontade.
O desafio é encontrar maneiras de se convencer e convencer
os outros disso sem subterfúgios externos, shows gratuitos e concentração de
pessoas desconhecidas e suadas, e, sobretudo, sem essa necessidade de tudo ou
nada que caracteriza os dias de folia.
Esquecer o calendário e pensar na urgência natural de
sermos felizes, mas lembrar de não agir bruscamente, pois não aguentamos esse
tipo de coisa com frequência. O resultado, embora mais batalhado, pode ser mais
prazeroso (e surpreendentemente constante) do que a já aguardada e explosiva
alegria de um período de carnaval (e pode ter efeitos menos prejudiciais do que
uma nada conveniente insônia).
Essa é minha Bel <3
ResponderExcluirCarnaval, para mim, é também sinônimo de encontrar você pouquinho, mas ainda assim, sempre munida de um sorriso bem aberto e um abraço muito forte.
voltei ao tempo... (cunha)
ResponderExcluirMuito bom Belzita! Quase me deu vontade de ir curtir a folia. Quase ;P Por sorte, sempre posso me encontrar contigo! =****
ResponderExcluirAi que delícia tuas inferências.
ResponderExcluirEu leio Mabel para me sentir bem e motivada. É muito amor, viu?
ResponderExcluir