Lembranças
conseguem ser extremamente vivazes embora no momento exato em que aconteçam
certos fatos minha visão tenda a ficar levemente distanciada. É como se
passasse dali do meu corpo para uma posição de observadora. Transporto-me para
uma cápsula temporária onde tudo ficará bem. Ouço vozes, inclusive a minha,
falando de alguma maneira que não tem nada a ver comigo. Ouço os outros dizendo
o que bem entendem, e me ouço concordar com eles. Mas eles estão mentindo. E eu
estou me enganado. E é isso que, momentos depois, passa como um filme curto e
repetido na minha mente, travando qualquer perspectiva de progresso, como um lembrete sádico de que, em
algum ponto, não fui quem espero ser. E talvez nunca seja. A cápsula me
protege, percebo. Mas de que? E de quem? Ela isola. E me faz temer cada vez
mais o que há no exterior. Mesmo sabendo disso, e talvez justamente por
entender isso, acabo evitando encontros. Principalmente com aquela que sou do
lado de fora. Tenho medo de não gostar. Tenho medo de querer desafiar os outros
dizendo que estão errados e eles me convençam, afinal, que está tudo bem e
então eu já não consiga enxergar da cápsula. Tenho medo de não ser mais o que
sou, mesmo que eventualmente já não me veja em mim.
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