8 de out. de 2013

Monotonia dialogada

Se, apesar de tudo isso, um começo fantástico aparecesse... Não importariam as semanas perdidas, os textos apagados, a nota baixa pela prova que demandava mais estudo, aquelas grosserias no trânsito e fora dele, a pisada na poça de lama seguida do tropeço pouco admirável perto da parada de ônibus. Não. Bastaria uma expressão honesta daquilo que a mente insiste em devanear só para si, na sua linguagem que eventualmente (sempre) não se traduz... E eu vou entendendo sem entender direito, como geralmente é uma interação humana (mesmo que interna). Onde andará aquela transcrição clara, em parágrafos, do pensamento singelo, tocante, marcante, singular? Sim, algo genuinamente bom, sem rimas estranhas numa prosa metalinguística fadada ao fracasso. Na derrota dos dedos, repreendidos pela mente que não sabe se explicar, mas sabe que aquelas tentativas não a traduzem, tenho me obrigado a voltar às questões cotidianas. Aulas, rotinas, colegas de trabalho, todo um material vasto de contos não-escritos e não-falados, todos caracterizados com olhos clínicos de um Sherlock contemporâneo sem tanta capacidade de dedução como o original, mas com um acesso às redes sociais que lhe faria inveja. No entanto, ao invés de serem retratados, são vividos com aquela dose de monotonia. Aquele quê de o que tem de mais? Você pode me perguntar: Mas então, por que não jogá-los no papel, ou na tela do computador? Não tornar um real em vários contos, e nesse câmbio interagir com ele da maneira que lhe for favorável? Eu até barganho com a minha mente... E não peço a história inteira, nem um arremate intrigante, com deixa para o volume dois. Peço apenas o começo e deixa que eu lido com o resto. Diria então (minha mente) com o devido ruído causado pelos tradutores (meus dedos, que nesses dias tão repetidos ensejam movimentos tão iguais): o difícil é mesmo perceber que não há começos esplendorosos porque nós já começamos. Já tropeçamos perto da parada de ônibus, o chinelo ainda cheira a lamaçal, o texto não está escrito, nisso já perdemos algumas semanas e não obtivemos a aprovação desejada na prova, ou obtivemos filando, mas isso ninguém colocará no currículo. O começo fantasiosamente fantástico não existe, como existem as repetições, porque nós já começamos. E tudo que vem daí é só uma ilusão de início. Somos carga do que fomos. Somos um meio monótono com fim fugaz, que simplesmente já o é, não será. Nada de começos esplendorosos, então... É preciso entender que um novo dia é só um dia a mais. E que é preciso, apesar de tudo, encontrar, nesse meio breve-eterno em que vivemos, o fantástico, que, sem esforço, não vai simplesmente aparecer.

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