Depois de remoer por mais algumas
horas o que já pensava há semanas, chegou à conclusão convicta de que não
poderia continuar. E mesmo que depois de tantas reflexões conseguisse
estruturar isso em um discurso coerente, este parecia contradizer toda sua
vontade.
Quase era possível ouvir, ao
longe – embora oriundo do próprio subconsciente –, o velho mantra: se tentasse outra vez poderia ser
diferente...
Mas às vezes vamos embora porque
não suportaríamos ver a outra pessoa partir. Possibilidades machucam e ludibriam,
essa é a verdade. Nem todos conseguem conviver com elas sem deixar que tomem o
controle. Assim, tenta-se colocar um (aparente) ponto final para que não
existam reticências que, convenhamos, são a glória e a ruína dos sonhadores.
Sofia bateu à porta, sem ter
certeza de que era o que devia ser feito e esperou que ele não aparecesse. Se ele não aparecer, é porque não faz
sentido.
Segundos depois, surpreendido,
mas parecendo satisfeito, lá estava ele, convidando-a a entrar.
Olhos nos olhos, ela entendeu. Ele
jamais entenderia.
Disse que não, não poderia mais
entrar. Que seria melhor assim.
Ele não disse nada. Embora
estivesse ainda mais surpreso do que estava pouco tempo antes e sua segurança
parecesse finalmente se abalar.
Sofia deu às costas e caminhou distanciando-se dele e, em certa medida, dela mesma, do que
havia sido. Estava prestes a vivenciar um
lado curioso acerca de destruir uma ilusão... Às vezes, é justamente ela que
nos sustenta.
______
Só para complementar, música de Herbert Vianna, "Partir, andar", interpretada por Zélia Duncan.
"Tantas mentiras e no fim
Faltava só uma palavra
Faltava quase sempre um sim
Agora já não falta nada
Eu não quis
Te fazer infeliz
Por tanto não querer
Talvez fiz."
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